Sabemos que acidentes que envolvem produtos perigosos são extramente letais. Tais produtos são aqueles inflamáveis, explosivos, tóxicos e radioativos (usinas nucleares). Muitos pensam que o risco desses produtos causarem um grande acidente está relacionado diretamente apenas com os processos fabris. Contudo, a história nos mostra que mesmo em armazéns ou parque de estocagem de produtos perigosos há altas possibilidades de ocorrer acidentes de grandes proporções. Vamos rever alguns desses acidentes:
1) Oppau, Ludwigshafen, Alemanha, 1921 – cerca de 4.500 toneladas de mistura de sulfato de amônio e nitrato de amônio, que estavam em um silo, explodiram e causaram a morte de 500 a 600 pessoas;
2) Toulouse, França, 2001 – em torno de 300 toneladas de nitrato de amônio estavam armazenadas num galpão. O material explodiu e causou a morte de 29 pessoas e 2.500 ficaram feridas;
3) Hemel Hempstead, norte de Londres, Reino Unido, 2005 – um depósito de derivados de petróleo com capacidade de 227.000 m3 de combustível explodiu e resultou em 43 pessoas feridas e um custo total de mais de 1 bilhão de libras esterlinas;
4) Bayamón, Porto Rico, 2009 – outro depósito de derivados de petróleo, com cerca de 19.000 m3 de capacidade, explodiu causando ferimento em três pessoas e o fechamento das operações da empresa;
5) Área industrial de Alemoa, Santos, 2015 – o parque de estocagem de combustível pegou fogo e o incêndio durou 9 dias. Não houve feridos, mas ocorreram severos danos às instalações e, até agora, houve uma multa de 22,5 milhões de reais aplicada pela Cetesb. Além disso, a empresa envolvida terá que cumprir cinco exigências, dentre elas estão a revisão do Plano de Ação de Emergência e o Programa de Gerenciamento de Risco (Fonte: <http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2015/04/cetesb-multa-ultracargo-em-mais-de-r-22-mi-apos-incendio-em-santos.html>);
6) Tianjin, China, 2015 – um depósito de estocagem de produtos químicos pegou fogo e logo depois explodiu, causando a morte de mais de 100 pessoas, dentre elas doze bombeiros que estavam combatendo o incêndio.
Por que esses acidentes acontecem?
Normalmente grandes acidentes ocorrem devido a falha de múltiplas camadas de proteção. Para reduzir a possibilidade de falha dessas camadas, existem várias ações que as empresas podem tomar e que são comprovadamente eficazes.
Entre as décadas de 70 e 80 houve o clímax dos grandes acidentes em função da extensa contaminação ambiental em Seveso; a morte de mais de 4.000 pessoas devido a um único vazamento de metil isocianato em Bhopal; grande contaminação ambiental por radioatividade em Three Mile Island; outra forte contaminação por radioatividade em Chernobyl onde se estima a morte de mais de 10.000 pessoas. A partir daí, a atenção nos processos ou sistemas perigosos aumentou e os governos e associações privadas (API, IEC, NFPA, U.S. NRC etc.), responderam com várias normas e diretrizes para fortalecimento das camadas de proteção e, assim, reduzir a possibilidade de acidentes maiores.
De fato, os acidentes passados serviram de aprendizagem para aumentar a segurança do setor que lida com material perigoso. Contudo, ainda existem empresas que falham em assimilar as boas práticas reconhecidas mundialmente e comprovadas que ao segui-las haverá redução da possibilidade de ocorrer um grande acidente.
No acidente recente na China, noticiasse que havia armazenagem de carbureto de cálcio, cianeto de sódio e diisocianato de tolueno (TDI) (Fonte: <http://www.nytimes.com/2015/08/14/world/asia/tianjin-china-explosions.html?_r=0>) . Esses produtos em contato com água reagem violentamente, sendo que os dois primeiros formam acetileno e cianeto de hidrogênio respectivamente: produtos altamente inflamáveis. O cianeto de hidrogênio, além de inflamável é fortemente tóxico.
Supõe-se que devido a atuação dos bombeiros, houve a liberação de grande quantidade de material inflamável em função da reação dos produtos químicos com água, que causou uma grande explosão, piorando os efeitos do acidente. A explosão gerou uma grande bola de fogo que engolfou doze bombeiros levando-os à morte; certamente aumentou a quantidade total de vítimas
Se os bombeiros não sabiam dos riscos de utilizar água é porque houve uma grande falha no pré-plano de emergência, que tem a NFPA 1620 como um excelente guia. No seu capítulo 8 destaca os perigos especiais os quais incluem os produtos perigosos. As informações desses produtos devem estar disponíveis no pré-plano de emergência para que as pessoas, possíveis de se envolverem com uma emergência, sejam sabedora dos perigos. Adicionalmente, programas de gerenciamento de risco destacam informações sobre os produtos perigosos que inclui a elaboração e disponibilização de FISPQ conforme NBR 14725-4.